05/09/2025 - O documentarista brasileiro Silvio Tendler
Reprodução/TV Globo
O cineasta Silvio Tendler, um dos maiores documentaristas do Brasil, morreu na manhã desta sexta-feira (5), aos 75 anos. Ele estava internado no Hospital Copa Star, em Copacabana, na Zona Sul do Rio de Janeiro e morreu de infecção generalizada. A informação foi confirmada pela filha dele, Ana Rosa Tendler.
Conhecido como o “cineasta dos sonhos interrompidos” ou “cineasta dos vencidos”, Silvio Tendler dedicou sua carreira a contar histórias de personalidades como João Goulart, Juscelino Kubitschek, Carlos Marighella e Glauber Rocha.
Ao longo de mais de cinco décadas de carreira, produziu e dirigiu mais de 70 filmes e 12 séries televisivas. Tendler também dirigiu "Jango", "Os Anos JK – Uma Trajetória Política" e "O Mundo Mágico dos Trapalhões", em 1981.
A obra de Tendler foi marcada pelo engajamento político, pela defesa da memória histórica e pela produção de obras que retratam personagens cujas trajetórias foram interrompidas pela repressão ou pela morte precoce.
Na série “Cineasta do Real”, que fala sobre as obras dos principais documentaristas brasileiros, Tendler falou sobre o que o apaixonou para seguir carreira no cinema.
“A minha paixão por cinema vem daquela geração que tinha 14 anos em 1964. Era uma geração que teve a cabeça feita por Glauber, Godard, Truffaut, Joaquim Pedro, Leon. E eu me apaixonei por cinema.”
O primeiro projeto foi um documentário sobre João Cândido, conhecido como Almirante Negro, que chefiou o movimento que entrou para a história como a “Revolta da Chibata”.
“Em 1968, eu o filmei. Ele morava em São João de Meriti, na Rua Esmeralda e eu soube que ele tinha dado uma entrevista no MIS. Aí eu fui ao Museu da Imagem e do Som e ouvi a entrevista e o Ricardo Cravo Albim disse: ‘O filho dele trabalha comigo’. Eu fui, conheci o Candinho, pedi para falar com o pai dele, ele fez a ponte meio reticente. Eles eram temerosos. As pessoas tinham medo e o João Cândido foi um cara que foi perseguido a vida inteira”, contou.
O documentarista brasileiro Silvio Tendler
Reprodução/TV Globo
História
Nascido no Rio de Janeiro em 1950, o cineasta começou sua trajetória no movimento cineclubista ainda na década de 1960, liderando a Federação de Cineclubes do Rio em 1968.
Durante a ditadura militar, exilou-se no Chile e depois na França, onde se formou em História pela Universidade de Paris VII (Paris Diderot) e fez mestrado em Cinema e História pela École des Hautes Études – Sorbonne.
Desde 2011, utilizava cadeira de rodas devido a um problema de saúde que afetava a medula.
Silvio Tendler
GloboNews
Sua trajetória de superação foi retratada no documentário "A Arte do Renascimento", dirigido por Noilton Nunes.
Desde então, o cineasta seguiu ativo na produção cultural, lançando filmes como Saúde Tem Cura (2021), sobre o SUS, e participando de eventos públicos e festivais até 2024.
Silvio Tendler foi professor do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio desde 1979. De família judaica com raízes ucranianas e bessarabianas, ele viveu na Tijuca e em Copacabana, além de ter morado no Chile e em Paris.
Pai da cineasta Ana Rosa Tendler, Silvio se manteve envolvimento com políticas públicas de audiovisual e também teve uma breve carreira política.
Seu legado permanece como referência para gerações de cineastas, historiadores e ativistas culturais. Tendler deixa uma obra que contribuiu decisivamente para a preservação da memória política brasileira e para o fortalecimento do documentário como instrumento de reflexão e resistência.
Silvio Tendler com a amiga e jornalista Vera Perfeito no seu aniversário, em março de 2025
Arquivo pessoal
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